Exercício: Ler o texto de Juliano Garcia Pessanha,
captar
ideias e transformar num conto.
Entre dois buracos
Neste fim de semana que
passou, fui convidado para participar de três eventos culturais. Dois
aconteceram no sábado, um de literatura e o outro de dança. O terceiro, no
domingo, apresentação de novas bandas de rock.
Nos dois que aconteceram no sábado, minha
netinha Bebella me fez companhia, ela é uma figura muito presente em minha
vida. No domingo fui com minha esposa, pois seu filho, um bom baterista, se
apresentaria com os amigos. Poderia ter sido tudo perfeito se, num dos eventos,
não houvesse ocorrido algo surreal que vos relato abaixo.
Minha netinha havia levado alguns livros
para serem doados e trocados. Estávamos escolhendo livros na banca infantil que
ficava ao lado da banca de livros adultos. Entre as duas barracas culturais tinha
um espaço vazio que como por encanto foi ocupado por um ser iluminado.
O fascínio dominou a minha mente e meu
comportamental transformou-se em grande curiosidade. Percebi que Bebella estava
entretida entre princesas e fadas e fui de encontro àquele ser.
Ele parecia um tanto frágil, mas seus
singelos olhos por detrás dos óculos quadrados transmitiam sagacidade e força.
Os cabelos esbranquiçados pareciam centelhas a brilhar sobre o céu de
Shangri-lá. A suavidade da sua voz era como um cântico melodioso numa opereta
progressista.
Eu direcionei meus passos até aquele ser
de luz e me fiz apresenta-lo. E me senti orgulhoso por esse ato e uma
felicidade imensurável por estar diante de um ser de enorme simplicidade, mas
de grandeza singular.
Num momento ímpar como esse, nós mortais,
devemos mais ouvir do que falar, mas eu tinha a necessidade de lhe dizer o
quanto passei a admirá-lo ao conhecer um pouquinho da sua história.
Infelizmente não houve tempo para travarmos um diálogo.
Quase que da mesma forma que o ser
iluminado surgiu, do nada, apareceu um alienígena das profundezas do cosmos do
inferno e, sem ter ao menos uma partícula da porcentagem maior de uma educação
que nos foi ensinada pelo Universo, abduziu, abruptamente, o belo ser de luz,
interrompendo naquele instante o meu crescer intelectual.
Deixo aqui um alerta. Provavelmente,
muitos desses seres desprezíveis povoam a nossa esfera nas diversas formas
físicas e posições sociais. A maioria por ter uma espiritualidade muito
primitiva, ainda estão radicados nos 3E que os fazem mais perigosos do que os
demais.
O alienígena de sábado não tinha uma
fisionomia grotesca, mas a sua postura e comportamento tinha tudo a ver com um
ser do mal. Ele se apresentou com uma estatura média-alta, longilíneo e de
cabeça branca.
Tudo bem! Acredito que não era para ser
dessa vez, mas os Celestiais vão me reservar outro momento com aquele ser
iluminado e o tal alienígena... O das profundezas do cosmos do inferno, esse
sim, antes de terminar a abdução, direcionou seu olhar maligno e patético para
a minha pessoa. Eu, sem pestanejar, lhe enviei uma mensagem telepática
juntamente com movimentos labiais: “Vai tomar bem no meio do furinho do olhinho
do seu... Puffff! Abduziu”.
Naquele dia voltei para o meu lar muito
aborrecido e triste. Como pode existir no Universo um ser tão ardiloso? Acho
que no fundo ele engana a si mesmo desde que nasceu. Será que ele nasceu de
chocadeira? Sei lá... eu sei que estava muito indignado com o ocorrido e até
cheguei a dizer para o meu amor que, talvez, não participaria mais das aulas do
curso que estava fazendo.
Indignada ficou ela com meu posicionamento
e me fez entender que não é qualquer alienígena das profundezas do cosmos do
inferno que fará com que eu desista. Além disso, por ser um 3E, ele é ignorante
e de criaturas assim devemos ter pena e orarmos para que seu desenvolvimento
acelere.
Também me disse que sou mais inteligente e
esperto do que qualquer ser dessa estirpe e que um brasileiro, digno e
verdadeiro como eu, não desiste nunca. E aqui estou eu.
15/06/2015